"Longe vem o escrito de alguma coisa com início e fim. Mais ainda ter um meio. O meio, o interior dentro da coisa que tem um começo e não acaba assim como quem quer-a-coisa, qualquer coisa, sem princípio meio e fim. Do rio que me cheira as narinas ao som que me troa de gente os ouvidos, já quase não reconheço diferenças nem distâncias, apoquento-me. Apenas estranho o vento. Do chão que me calcorreia as pernas tenho vertigens, apequeno-me. As madeiras estalam, o ferro também, tudo dá de si. E eu dou tanto de mim que não acredito que estes estalos sejam daqui, de dar, que estes estalos quando me deito e a luz que vejo quando fecho os olhos para dormir e não consigo sossegar, sejam parte de outro existir ou um sonho qualquer. Creio que são outras coisas, que são mesmo reais; creio que a persiana ficou mal corrida, assim como a televisão que ficou toda a noite ligada. Creio que bastava dizer qualquer coisa para isso não acontecer mais, mas as minhas palavras são vãs, quase ocas, pois disse e fiz e das palavras tive um reverso violento e mal-educado, os gestos então, metade deles foram mais que mal interpretados. Do resto? Estou aqui num silêncio de palavras, a escrever os silêncios que me dão sem outro modo dos perceber e por isso ponho as letras defronte uma das outras para tentar entender. Estou aqui a tentar ouvir ao que me podem saber as palavras." (Excerto de "Ao que me podem saber as palavras" - 2012)
3 comentários:
Your strength, light and shadow.
WONDERFUL image.
Beijos
"Longe vem o escrito de alguma coisa com início e fim. Mais ainda ter um meio. O meio, o interior dentro da coisa que tem um começo e não acaba assim como quem quer-a-coisa, qualquer coisa, sem princípio meio e fim. Do rio que me cheira as narinas ao som que me troa de gente os ouvidos, já quase não reconheço diferenças nem distâncias, apoquento-me. Apenas estranho o vento. Do chão que me calcorreia as pernas tenho vertigens, apequeno-me. As madeiras estalam, o ferro também, tudo dá de si. E eu dou tanto de mim que não acredito que estes estalos sejam daqui, de dar, que estes estalos quando me deito e a luz que vejo quando fecho os olhos para dormir e não consigo sossegar, sejam parte de outro existir ou um sonho qualquer. Creio que são outras coisas, que são mesmo reais; creio que a persiana ficou mal corrida, assim como a televisão que ficou toda a noite ligada. Creio que bastava dizer qualquer coisa para isso não acontecer mais, mas as minhas palavras são vãs, quase ocas, pois disse e fiz e das palavras tive um reverso violento e mal-educado, os gestos então, metade deles foram mais que mal interpretados. Do resto? Estou aqui num silêncio de palavras, a escrever os silêncios que me dão sem outro modo dos perceber e por isso ponho as letras defronte uma das outras para tentar entender. Estou aqui a tentar ouvir ao que me podem saber as palavras." (Excerto de "Ao que me podem saber as palavras" - 2012)
porra, belíssima abstração
Enviar um comentário